segunda-feira, 9 de julho de 2007



José, Elias. Ciranda brasileira. São Paulo, Paulus, 2006. 64 p. R$ 25,00

FESTA DA POESIA

Ciranda é brincadeira de roda! Mãos dadas no exercício democrático do brincar! É ainda música e dança coletiva. É também essa congregação das diferenças, das peculiaridades, das curiosidades, exatamente como é o Brasil.
Neste livro o país é retratado duplamente pelo viés da cultura popular: a linguagem e a imagem; a poesia e a xilogravura! O escritor Elias José, sempre atento às marcas da brasilidade, faz o processo inverso: escolhe primeiro as imagens – as xilogravuras de J. Borges, e a partir delas, cria a poesia. São 21 poemas, com ar de literatura de cordel. Os textos são simples, com muita musicalidade e desfiam a mistura brasileira através dos personagens populares (como Lampião), dos tipos regionais (como o nordestino castigado pela seca), das crenças populares (como a visita da cegonha), dos desfiles carnavalescos (como o Maracatu), dos folguedos (como o Bumba-meu-boi), dos animais provocadores do humor no imaginário popular (como o macaco), das atividades coletivas (como a quebra do milho) e de outros pequenos segredos cotidianos.
As xilogravuras coloridas de J. Borges, saídas de vários de seus livros de cordel, encantam e brincam com o olhar do leitor! As repetições dos motivos, as expressões dos personagens, as cores e detalhes criam uma atmosfera de festa pública e o desejo de participação nesta grande ciranda.
Ao final do livro – que vai se formando como os pedacinhos de uma colcha de retalho ou de um mosaico, para deixar ver o todo -, fica a constatação de que a leitura da poesia exige também um leitor brincante, disposto a ler em voz alta, ávido por usar a teatralidade dos temas e das palavras, para provocar ritmo, compassos, música. Porque poesia é mesmo para ser sentida, de alguma forma! E poesia popular parece que pede encenação, corpo e alma!

LEITURA COMPLEMENTAR: JOSÉ, Elias. A poesia pede passagem. São Paulo, Paulus, 2003. BORDINI, Maria da Glória. Poesia infantil. São Paulo, Ática, 1986.

Por que você deve ler este livro, professor?

Para estar cada vez mais em contato com a diversidade cultural brasileira; para afiar mais o olhar e perceber a poesia no dia a dia; para se emocionar, se divertir, ficar encantado com as manifestações folclóricas desse imenso país; para perceber que a poesia é também um gostoso jogo de palavras, escolhidas com precisão para dizer muito com pouco; para se familiarizar com a linguagem visual da xilogravura, se aproximar da literatura de cordel, se encantar com a incomum colorização das imagens, em técnica descoberta pelo artesão.

* Celso Sisto é escritor, ilustrador, contador de histórias do grupo Morandubetá (RJ), ator, arte-educador, especialista em literatura infantil e juvenil, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e responsável pela formação de inúmeros grupos de contadores de histórias espalhados pelo país.

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