OZ, Amós. De repente, nas profundezas do bosque. Trad. de Tova Sender. São Paulo, Cia. das Letras, 2007. 141 p. R$ 31,00VER PARA CREREste pequeno livro não é para ser lido uma só vez... Para realmente subirmos a montanha e descobrirmos o que acontece além dos muros de pedra, é necessária a coragem dos que não suportam mais a mesmice e vão de encontro ao desconhecido, mesmo sabendo que para isso terão que romper com o estabelecido.
Em uma indeterminada aldeia, duas crianças, Mati e Maia, são os únicos inconformados com o estado das coisas. Numa noite fatídica, muito antes do nascimento deles, todos os animais do lugar desapareceram: peixes, gatos, cachorros, carneiros, moscas, cupins, absolutamente tudo. Os adultos não foram atrás de uma explicação plausível, e passaram a aceitar a hipótese de que Nehi, o demônio da montanha, engoliu tudo, estendendo seu manto escuro, que envolve e aprisiona toda criatura viva, levando-as para o seu palácio assombrado além dos últimos bosques . Desde então a noite é proibida para os moradores daquele lugar, que se fecham em suas casas, para se defenderem do que acontece do lado de fora.
Mas além da aceitação passiva dos moradores da aldeia, eles também evitam tocar no assunto, com os que vieram depois. Na escola, a professora Emanuela tenta mostrar para as crianças como eram os animais, mas elas parecem não acreditar muito.
E essas mesmas crianças que exigem provas para acreditarem no passado, também são cruéis e zombeteiras, impiedosas mesmo com quem não se enquadra nos padrões de comportamento vigente naquele lugar. Por isso, tudo o que rompe com esse padrão acaba caindo mesmo na esfera da patologia, do animalesco, empurrando o ser em direção à natureza e forçando-o para fora do território da aldeia. O bosque, que está na fronteira é que guarda as respostas e os seres rejeitados... Maia e Mati vão lá, ver com os próprios olhos...
Amós Oz tem um escrita enxuta. Mas usa um recurso curioso: repete nos capítulos seguintes coisas que já tinham sido ditas anteriormente... e repete mais de uma vez... e mais uma vez ele conta o que já havia contado, e vai ampliando pouco a pouco, criando uma atmosfera que pode beirar à angústia. Não há travessão na sua escrita, as falas do discurso direto estão incorporadas ao texto, fazendo então, parecer que tudo provém do narrador... é a sensação de que o personagem fala porque a voz do narrador está ali e o conta!
Os 33 pequenos capítulos do livro - número que já traz embutido uma aura mágica (3 é o número do mistério, representa fé, esperança e caridade, 3 é trindade!) - são extremamente potentes e injetam, dosam, refream, exacerbam a curiosidade do leitor, com a naturalidade da brisa que passa, um pouco rápida, mas intermitente! Não há uma ilustração que ajude a concretizar a visão triste e cinza daquele lugar, exceto a pequena árvore que, à guisa de vinheta, fecha cada capítulo.
O autor é apontado como o principal escritor israelense da atualidade. É professor universitário , vive em Israel , tem 18 livros publicados e já está traduzido para 30 idiomas. É co-fundador do movimento pacifista israelita Peace Now e, com sua obra, já recebeu alguns importantes prêmios, como o Prémio de Frankfurt pela Paz (1992), o prêmio Israel de Lieteratura (1992), uma indicação para o Nobel de Literatura (2002), o Prêmio Internacional Catalunya (2004) e o Prêmio Príncipe das Astúrias (2007).
O livro pode agradar ao leitor jovem, se for bem apresentado por um mediador de leitura!